Vivia os dias mais quentes do ano. Tinha rasta. Não tinha emprego. Não tinha casa. Não sabia praonde eu ia. Andava à beiro do rio sagrado numa das cidades mais antigas do mundo vendo saddhus se banharem e cadáveres sendo cremados. Tomava lassi. Assistia à filmes de Bollywood. Usava chinelo de dedo TODO DIA pra fazer QUALQUER COISA. Praticamente não comia carne. Lia krishnamurti. Meditava. Aprendia Hindi. Dançava trance. Só dirigia scooter. Festejava Holi e Divali. Só fumava charas. Passava horas em filas. Descabelava-me por atrasos….
Amava, mas pensava em voltar.
Hoje, estou aqui, de volta:
Vivendo os dias mais frios do ano. De cabelo curto e natural. Carteira assinada. Com casa, comida, roupa lavada e conta bancária. Sentada num escritório. De frente a um computador. Pegando ônibus todo dia. Ficando presa no trânsito. Vendo exposições. Calçando um oxford. Assistindo filmes europeus e vídeos do youtube. Encontrando meus amigos próximos. Comendo de tudo um pouco (incluindo muito bicho). Dançando rock. Dirigindo só meus projetos. Festejando Cranaval e Páscoa. Fumando maria. Lendo Murakami. Recebendo uma quantidade avassaladora de informações. Aprendendo canto. Dando risada. Aceitando o tempo e os atrasos…
Amando, mas pensando em voltar.
Um pode não concordar. Um pode não entender.
Mas como saber, se não EXPERIMENTAR? Que outro sentido há?
Porque viveria um só estilo de vida se me é consciente a quantidade de coisas, pessoas, lugares, situações, culturas, climas, idéias a serem explorados?
Livros não ensinam essas coisas.
As mutações ajudam-nos a decidir. A novidade, a presenciar o momento.
Por mim, passo a vida inteira camaleando.
Amém.
BE HERE NOW 